Caderninho

Venda fiada ainda resiste nos bairros

Estudo aponta que essa é uma das principais características dos comércios de vizinhança

Gabriel Huth -

O comércio é permeado por vínculos de confiança e amizade. O ambiente, geralmente pequeno, transmite a sensação de vizinhança e pertencimento. As relações de compra e venda são bem diferentes das praticadas pelos grandes concorrentes. O trabalho é duro e, muitas vezes, se estende ao longo de todo o dia, durante a semana inteira. As características dos chamados mercados de vizinhança não se alteraram muito ao longo dos anos e proporcionam aos proprietários uma segurança em relação ao seu negócio, a ponto de ainda sustentarem práticas como a venda fiada.

A visão é da dona Neli dos Santos, administradora de um minimercado no Laranjal há 22 anos. "O segredo é o trabalho. A gente não tem sábado, não tem domingo. Passa o dia inteiro aqui", revela. Apesar do momento econômico complicado, ela garante que as vendas estão boas. "Não posso me queixar", comenta. Contratar mais funcionários, por outro lado, ainda não é uma ideia viável.

A comerciante não está sozinha. Estudo feito pela empresa de pesquisa GFK revela que 64% dos pequenos varejistas estão otimistas com o crescimento dos seus negócios e acreditam que o desempenho do setor em 2018 será melhor ou muito melhor em relação ao ano passado. Segundo a pesquisa, as peculiaridades desse tipo de comércio são o maior fator de impulso do crescimento.

Os comércios de vizinhança são aqueles que têm até quatro caixas, conforme o estudo. Sua principal característica é o vínculo formado com a comunidade a qual pertence. A pesquisa mostra que 47% dos entrevistados praticam a venda fiada. É o caso do comércio de Neli. "Temos uma relação de confiança muito grande com os clientes. A maioria compra aqui há mais de dez anos", fala.

Para Marcelo Passos, professor do mestrado em Economia Aplicada da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), esta prática fideliza o consumidor. "É mais visível nas cidades pequenas e nos bairros das cidades médias", ressalta. Além disso, explica que é uma forma de facilitar o crédito e impulsionar as vendas. Os altos juros dos cartões de crédito fazem com que as pessoas prefiram comprar fiado a usá-lo.

Os desafios
O bom momento econômico de Neli dos Santos não neutraliza os velhos problemas enfrentados por quem tem um comércio afastado do centro da cidade. Para ela, a infraestrutura urbana é o maior desafio. "As ruas são todas esburacadas, o sistema de esgoto é ruim. Quando chove, então, nem se fala", pontua.

O estudo também apresenta outros desafios a esse tipo de comércio. Fatores que englobam a formação educacional e o uso de tecnologia ainda são estranhos no meio. Segundo a pesquisa, quanto maior for o número de profissionais especializados com formação superior e gestão de tecnologia, maior será a receita. O crescimento médio de cada nível escolar apontado é de quase 10%.

A empresa
A GFK é uma corporação alemã nascida em 1934. Desenvolve pesquisas para o ramo do varejo e da indústria. Atualmente, está presente em mais de 100 países, incluindo o Brasil.

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